A cultura do cancelamento, um fenômeno social cada vez mais prevalente, levanta questões complexas sobre poder, identidade e dinâmicas de grupo na psique humana. Esse fenômeno, caracterizado pela rápida desaprovação pública e ostracismo de indivíduos ou grupos devido a comportamentos considerados inadequados ou ofensivos, tem um impacto profundo nos indivíduos envolvidos, bem como na sociedade como um todo.
Na psicanálise, a cultura do cancelamento pode ser vista como uma manifestação moderna da dinâmica do superego, a parte da personalidade que internaliza normas sociais e expectativas morais. O cancelamento representa um julgamento social severo, no qual aqueles que são percebidos como violadores das normas são punidos através da exclusão e da condenação pública. Esse processo pode ativar sentimentos de culpa, vergonha e ansiedade nos indivíduos afetados, levando a um conflito interno entre o desejo de pertencer e o medo da rejeição.
A cultura do cancelamento pode promover uma mentalidade de polarização e divisão, na qual as pessoas são incentivadas a ver o mundo em termos de "nós versus eles". Isso pode levar a uma fragmentação da identidade pessoal e coletiva, impedindo a construção de pontes e o diálogo construtivo entre diferentes pontos de vista.
Os efeitos psicológicos da cultura do cancelamento podem ser especialmente prejudiciais para aqueles que são alvos de cancelamento. O ostracismo social pode desencadear sentimentos de isolamento, depressão e ansiedade, afetando negativamente a autoestima e o bem-estar emocional. Além disso, o medo de ser cancelado pode levar os indivíduos a censurar seus pensamentos e opiniões, inibindo a expressão autêntica de si mesmos e contribuindo para um clima de conformidade e autocensura.
No trabalho psicanalítico, a psicanálise pode oferecer um espaço seguro para explorar os efeitos psicológicos da cultura do cancelamento e desenvolver meios para lidar com o estresse e a ansiedade associados a ela. Isso pode envolver a exploração dos conflitos internos gerados pelo medo da rejeição social, a reconstrução da autoestima e a busca de formas saudáveis de conexão e pertencimento.
A cultura do cancelamento nos desafia a examinar criticamente as normas sociais e as dinâmicas de poder que a sustentam. Ao entender seus efeitos psicológicos e sociais, podemos trabalhar para promover uma cultura de respeito, empatia e aceitação mútua, na qual a diversidade de opiniões e experiências é valorizada e celebrada.
De outra sorte, aceitar o jogo é alimentar e reforçar na sociedade que existe algum padrão único, desrespeitando a subjetividade do humano em sua múltipla formas de expressão.
A cultura de cancelamento é algo a ser combatido para que o sujeito não fique dentro de uma caixinha de modelo, não podendo amadurecer com sua própria singularidade.
Dessa forma, a psicanálise no processo analítico trabalha com muita expressão para que a sociedade possa amadurecer em valores que respeite a manifestação de diferenças...
Seja na expressão de fé ou não fé, seja na expressão política partidária ou não, seja na exposição pública ou na manifestação privada o respeito ao sujeito...
Associados I.C.P.B.