Existe um amor tão completo, total e avassalador mesmo? Ou nós o criamos, talvez estabelecendo uma exceção como regra?
Psicanalistas do Instituto Círculo Psicanalítico de Brasília (ICPB), falam das reflexões sociais e discussões sobre o complicado, enigmático e intrigante caminho do amor.
Nada atrai mais atenção, energia, tempo ou devoção do que o amor e, como resultado, o tema tem ocupado lugar de destaque em obras literárias e composições musicais.
A palavra amor tem uma ampla gama de significados. Inúmeras coisas sobre o amor foram ditas ao longo da história sob diferentes perspectivas. Uma de suas principais características é a dificuldade em defini-lo com um único olhar, um único impulso ou um único significado. Para muitos, o amor é um desejo intenso com intenção social que se dirige a outra pessoa em uma escala de intensidade entre tristeza e contentamento, esperança e destruição e geralmente se consolida em solidão e desamparo.
Mas como o mais desejável dos sentimentos pode nos fazer sofrer tanto?
Segundo a psicanalista, professora de artes cênicas e arteterapeuta Vanilda Santos, do Instituto Círculo Psicanalítico de Brasília (ICPB), o amor não nos livra de estar sozinhos, mas torna a experiência de estar sozinhos muito interessante. Existem muitas formas de amor e nenhuma delas é fácil. Uma vez que nenhuma delas, nos livra da solidão. Aprender a viver só com as nossas faltas e com os nossos vazios facilita muito viver um amor real. O desespero de encontrar alguém para não ficar só, tem levado muita gente a viver relacionamentos abusivos, explica Vanilda.
Segundo Freud, encontrar a infelicidade no amor é muito mais fácil do que encontrar a felicidade. Amar é desejar algo que não se tem. No jogo do amor entram várias oposições: amar e ser amado, amar e odiar, amar e ser odiado. A questão é tão vasta quanto a palavra que a designa, acrescenta Vanilda.
Existe um caminho trilhado pelo amor que vá nos dar acesso ao outro?
Essa ideia existe em função dos formatos das relações e dos anseios equivocados acerca do que se espera do amor. A expectativa é de que o outro ocupe o espaço do vazio existencial, e não é responsabilidade do outro preencher um vazio que é nosso. É o que afirma a psicanalista e psicóloga, Isabela Lima.
As pessoas quando amam sentem que estão à beira de encontrar a melhor versão delas mesmas. Mas há um empecilho na rota da busca: a exigência da reciprocidade. E na dinâmica das relações essa busca de completude se torna uma das tragédias associadas ao amor.
O amor na psicanálise
Para a psicanalista, Edinê Seabra, a fragilidade se encontra no âmago da experiência amorosa e está diretamente ligada a subjetividade de cada um. O amor é o que enlaça o sujeito com o outro e se desenrola em uma relação de adoecimento e cura. Em que esquemas de defesas afetivas são desconstruídas e resistências são vencidas.
O Amor de transferência
Amor de transferência existe, sendo necessário saber conduzir esse fenômeno que é bastante comum na experiência da clínica psicanalítica, é o que explica a psicanalista e psicóloga Ádina Borges, vice-presidente do Instituto Círculo Psicanalítico de Brasília (ICPB). A palavra transferência vem dos termos latinos transferentia, que significa passar para o outro lado e conduzir. O processo analítico se dá por meio da transferência, onde o analisando deposita no seu analista seus conteúdos através da transferência por meio de uma conexão de amor ou ódio a partir das suas experiências da infância. Os sentimentos são atualizados na relação entre o paciente e o analista.
O Senso comum diz: Siga seu coração!
Siga seu coração? É o que diz a ideologia do momento, siga o seu coração. E nessa proporção de compreensão, o amor tem todas as leis, todos os poderes. Ele pode fazer qualquer coisa. Os reis não abdicaram em seu nome? O Taj Mahal não foi construído? Por causa do amor, grandes romances não foram escritos? Em tudo o amor é glorificado, nos filmes, séries, literaturas e até nas canções. Apresentam o amor como sentido da vida e um tesouro a ser cuidado mesmo quando vai contra tudo e todos. Levado a esse extremo, a lógica do “siga o seu coração”, coloca os adeptos numa jornada de descobertas tardias sobre a essência de cada um. Basta que um insista na travessia do encanto vencendo toda resistência imposta pela eterna busca da completude.
Afinal o que o amor quer de nós?
Não há nada mais importante do que o amor, pensar no amor em todas as suas várias formas e conexões é essencial. Nessa busca de respostas ou saídas vale lembrar que, as respostas não estão no outro. Estão dentro de nós, na habilidade e na disposição que cada ser individual possa investir para alcançar um relacionamento saudável. Amar é considerar as diferenças, acolher a existência do outro com suas faltas.
O amor enquanto sujeito convoca um e outro a perderem, sustentando uma abertura dentro de nós mesmo para que possamos acolher o outro sem projeção e identificação com a consciência de que o que está fora de nós também está dentro.
O amor nos convoca a mergulhar em suas águas sem medo do que possamos encontrar e nos desafia a descobrir mais.
Assessoria de Imprensa
Instituto Cículo Psicanalítico de Brasília - I.C. P. B
Gabriela Scalon