A necessidade de aprovação não nasce na vida adulta — ela é herdeira das primeiras relações com aqueles de quem dependíamos para existir. O bebê não busca apenas alimento, mas reconhecimento: é no olhar do Outro que ele encontra a confirmação de que é alguém. A partir desse olhar, constitui-se o eu. Quando esse espelho primário falha, torna-se difícil sustentar o próprio valor sem recorrer constantemente ao julgamento externo.
Na psicanálise, a busca compulsiva por aprovação pode ser vista como um sintoma que tenta reparar uma falta narcísica fundamental: a dificuldade de acreditar na própria consistência subjetiva. O sujeito não deseja apenas ser amado, mas ser validado — precisa ouvir do outro aquilo que não consegue afirmar de si. Nessa lógica, o desejo se desloca: não é mais “quero isso”, mas “quero que me queiram”.
O olhar do outro torna-se tribunal e anestesia: sustenta, mas aprisiona. Likes, elogios, conquistas e performances passam a funcionar como doses momentâneas de reconhecimento, que aliviam a angústia, mas logo se esgotam, exigindo novas provas de valor. O sujeito fica dependente desse circuito, preso ao imperativo de agradar.
Na clínica, não se trata de abolir o desejo de reconhecimento — ele é constitutivo da vida psíquica —, mas de possibilitar que o sujeito encontre um ponto interno de referência, que não seja totalmente governado pelo olhar alheio. A aprovação deixa de ser o centro da vida quando o sujeito se autoriza do próprio desejo, reconhecendo a própria falta sem precisar preenchê-la com aplausos.
Libertar-se da compulsão de ser aprovado não significa tornar-se indiferente ao outro, mas transformar a relação com o olhar: do espelho que aprisiona ao olhar que testemunha, sem definir quem se é. É nesse deslocamento que o sujeito pode, enfim, existir para além da necessidade de ser amado — e começar a desejar.
Associados I.C.P.B.