Na psicanálise, a fantasia não é apenas devaneio ou imaginação solta. Ela ocupa um lugar estruturante na vida psíquica, pois organiza a relação do sujeito com seu desejo e com o Outro. Fantasiar é construir uma cena, uma espécie de roteiro inconsciente, que ao mesmo tempo vela e revela algo daquilo que nos move.
Freud já apontava que as fantasias encobrem uma verdade mais profunda: não mostram diretamente o objeto do desejo, mas indicam seu contorno, sua falta, sua lógica. Lacan acrescenta que a fantasia funciona como uma moldura que sustenta o desejo, permitindo ao sujeito dar alguma forma ao indizível.
Assim, quando alguém fantasia, não está apenas “fugindo da realidade”; está, de certo modo, tocando o núcleo de sua verdade subjetiva. As cenas fantasiadas revelam o lugar que o sujeito ocupa ou gostaria de ocupar na relação com o amor, com o reconhecimento, com a satisfação.
Na clínica, escutar a fantasia é escutar a gramática íntima do desejo: onde o sujeito se posiciona, o que repete, o que insiste. É nesse espaço, muitas vezes inconsciente, que se encontram pistas sobre aquilo que não pode ser dito diretamente, mas que aparece disfarçado em imagens, enredos e roteiros internos.
As fantasias, portanto, não são apenas ficções privadas: são mensagens cifradas do desejo. E a análise, ao decifrá-las, possibilita que o sujeito se responsabilize por sua própria cena, talvez abrindo espaço para escrever novos roteiros de vida.
Associados I.C.P.B.