Quando assumir a responsabilidade liberta

Na escuta psicanalítica, responsabilidade não é sinônimo de culpa moral, nem de submissão a normas externas. É algo mais íntimo: diz respeito à posição que o sujeito assume diante do que o atravessa — seus desejos, seus sintomas, seus atos.

Muitas vezes, o sofrimento psíquico se cristaliza na forma de queixa: “isso me acontece”, “não tive escolha”, “foi por causa do outro”. Essa posição, ainda que compreensível, aprisiona o sujeito, pois o coloca como efeito passivo das circunstâncias. A análise busca deslocar esse lugar, convidando o sujeito a se implicar: “o que disso tem a ver comigo?”.

Assumir responsabilidade, nesse sentido, não significa culpar-se pelo que se viveu, mas reconhecer que há um modo singular de se colocar no mundo, e que é possível escolher algo diferente a partir daí. É quando o sujeito deixa de esperar que o Outro mude para que sua vida mude, e passa a se autorizar de seu próprio desejo.

Esse movimento é paradoxalmente libertador: ao se responsabilizar, o sujeito deixa de estar à mercê. A responsabilidade não elimina a falta, mas possibilita criar algo com ela. É um ato de separação simbólica — deixar de ser apenas efeito da história e tornar-se autor de novas enunciações.

Assim, na psicanálise, a liberdade não está em fazer tudo o que se quer, mas em poder querer de um lugar próprio. E isso só é possível quando a responsabilidade deixa de ser peso e passa a ser apropriação: não do que aconteceu, mas do que se pode fazer a partir do que aconteceu.

 

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