Na psicanálise, o olhar não é apenas um ato físico: é uma experiência profundamente psíquica, que implica desejo, falta, reconhecimento e alienação. Quando olhamos — e, sobretudo, quando sabemos que estamos sendo olhados — algo em nós se reorganiza. No Instagram, essa dinâmica atinge um novo nível de intensidade e complexidade: o sujeito não apenas olha, mas se oferece ao olhar do outro como imagem.
Lacan nos lembra que o olhar do outro tem um papel fundamental na constituição do eu. É no estádio do espelho que o sujeito, ao se ver refletido, começa a formar uma imagem de si — uma imagem idealizada, que já é mediada pelo desejo do outro. No Instagram, essa lógica se repete e se amplia: cada post, selfie ou story é uma tentativa de capturar o olhar do outro, de ser visto, curtido, desejado. O sujeito passa a existir, simbolicamente, na medida em que aparece.
Mas essa visibilidade tem um preço. A exposição constante gera ansiedade: “Estou sendo suficiente?”, “Quantos viram?”, “Por que não reagiram?”. O eu se torna dependente de um espelho digital, que nunca devolve exatamente o que o sujeito procura. Há sempre um mais: mais curtidas, mais visualizações, mais aprovação. E o desejo, como sabemos, é insaciável.
Por trás da busca por visibilidade, muitas vezes esconde-se a tentativa de suturar uma falta — estrutural e inevitável. O Instagram alimenta a fantasia de que é possível controlar o olhar do outro: escolher o ângulo, editar o corpo, filtrar a vida. Mas o olhar do outro é sempre opaco, impredizível. Nunca sabemos realmente como somos vistos — e é justamente aí que reside a angústia.
A dinâmica do olhar no Instagram, portanto, não é apenas estética ou social — é psíquica. É o sujeito tentando se reconhecer numa imagem construída para o desejo do outro. É a luta entre o ser e o parecer. A psicanálise nos convida a interrogar esse olhar: o que eu busco quando posto? De quem é esse desejo que me atravessa? O que há em mim quando não estou sendo visto?
Talvez, ao sustentar essas perguntas, o sujeito encontre um modo mais autêntico de habitar o espaço virtual — não para apagar a falta, mas para conviver com ela.
Associados I.C.P.B.