Por que o silêncio é tão importante na clínica?

Na clínica psicanalítica, o silêncio não é ausência, nem vazio: é presença. Diferente do cotidiano, onde o silêncio muitas vezes incomoda ou é visto como um fracasso da comunicação, no setting analítico ele tem função e escuta própria. O silêncio fala — e fala muito.

Freud já nos mostrava que o inconsciente se expressa de maneiras indiretas: nos lapsos, nos sonhos, nos atos falhos — e também nas pausas. Para o analista, o silêncio do paciente pode ser tão revelador quanto suas palavras. É nesse intervalo que algo pode emergir: uma angústia, uma lembrança, um afeto que ainda não encontrou nome. O silêncio permite que o sujeito se escute, que algo de si ressoe sem ser imediatamente tamponado pela fala automática.

Mas o silêncio não é importante apenas para quem fala. É também — e talvez principalmente — um ato ético do analista. Ao sustentar o silêncio, o analista recusa a posição de mestre, de conselheiro, de resposta pronta. Ele oferece um espaço onde o sujeito possa se confrontar com suas próprias questões, desejos e contradições, sem a interferência do saber do outro.

Lacan dizia que o analista é aquele que sabe fazer-se "objeto a" — não para preencher o paciente, mas para causar o desejo, provocar a fala, deixar que algo se desvele. O silêncio é esse espaço em branco onde o sujeito pode se autorizar a dizer o que, até então, era indizível. Não há pressa na escuta analítica: há tempo. Tempo para o inconsciente.

Em um mundo barulhento, cheio de ruídos, opiniões e respostas rápidas, o silêncio clínico é um gesto radical. Ele sustenta a falta — e é justamente a partir da falta que o sujeito pode desejar, criar, transformar-se. O silêncio, longe de ser um obstáculo, é o solo fértil onde a fala verdadeira pode finalmente germinar.

 

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