Infância sob estímulo: o que a hiperestimulação digital faz com o psiquismo infantil?

Na infância, o aparelho psíquico está em construção. As experiências, os afetos, os tempos de espera e, sobretudo, as relações com os adultos significativos, são fundamentais para que a criança constitua um eu minimamente estável, capaz de simbolizar, desejar e suportar a falta. Nesse processo, o tempo — Infância sob estímulo: o que a hiperestimulação digital faz com o psiquismo infantil?

Na infância, o aparelho psíquico está em construção. As experiências, os afetos, os tempos de espera e, sobretudo, as relações com os adultos significativos, são fundamentais para que a criança constitua um eu minimamente estável, capaz de simbolizar, desejar e suportar a falta. Nesse processo, o tempo — lento, repetitivo, até mesmo entediante — tem um papel essencial. Mas o mundo digital, com sua hiperestimulação constante, atravessa essa lógica com um ritmo frenético e sedutor.

Sob o olhar da psicanálise, a hiperestimulação digital — caracterizada por telas coloridas, sons incessantes, recompensas imediatas e estímulos contínuos — dificulta a elaboração psíquica. A criança, em vez de construir simbolizações, passa a responder de forma automática a estímulos externos. O tempo psíquico, necessário para a elaboração das experiências, é atropelado pelo imediatismo da tecnologia.

Além disso, o excesso de estímulo tende a impedir o contato com o tédio — e o tédio, longe de ser um problema, é uma condição fértil para o surgimento da criatividade, da fantasia e do brincar simbólico. Como nos ensina Winnicott, é no brincar que a criança elabora conflitos internos, ensaia experiências, simboliza perdas e constrói a realidade psíquica. A hiperestimulação empobrece esse espaço transicional.

Outro ponto importante: muitas vezes, a tela entra como substituto da presença do outro. Uma criança que, diante de qualquer incômodo ou frustração, é rapidamente “acalmada” com um vídeo, não tem a chance de lidar com a falta, com a espera, com o vazio. Isso tem consequências na capacidade futura de tolerar frustrações e de construir laços significativos.

A psicanálise não propõe um retorno nostálgico a um mundo sem tecnologia, mas convida a pensar: de que modo os adultos estão se colocando como mediadores simbólicos entre a criança e o mundo? Hiperestimular é, muitas vezes, uma tentativa de calar a angústia — da criança e dos pais. Mas calar não é escutar. E o sujeito, para se constituir, precisa ser escutado em sua singularidade, não apenas entretido lento, repetitivo, até mesmo entediante — tem um papel essencial. Mas o mundo digital, com sua hiperestimulação constante, atravessa essa lógica com um ritmo frenético e sedutor.

Através do olhar da psicanálise, a hiperestimulação digital — caracterizada por telas coloridas, sons incessantes, recompensas imediatas e estímulos contínuos — dificulta a elaboração psíquica. A criança, em vez de construir simbolizações, passa a responder de forma automática a estímulos externos. O tempo psíquico, necessário para a elaboração das experiências, é atropelado pelo imediatismo da tecnologia.

Além disso, o excesso de estímulo tende a impedir o contato com o tédio — e o tédio, longe de ser um problema, é uma condição fértil para o surgimento da criatividade, da fantasia e do brincar simbólico. Como nos ensina Winnicott, é no brincar que a criança elabora conflitos internos, ensaia experiências, simboliza perdas e constrói a realidade psíquica. A hiperestimulação empobrece esse espaço transicional.

Outro ponto importante: muitas vezes, a tela entra como substituto da presença do outro. Uma criança que, diante de qualquer incômodo ou frustração, é rapidamente “acalmada” com um vídeo, não tem a chance de lidar com a falta, com a espera, com o vazio. Isso tem consequências na capacidade futura de tolerar frustrações e de construir laços significativos.

A psicanálise não propõe um retorno nostálgico a um mundo sem tecnologia, mas convida a pensar: de que modo os adultos estão se colocando como mediadores simbólicos entre a criança e o mundo? Hiperestimular é, muitas vezes, uma tentativa de calar a angústia — da criança e dos pais. Mas calar não é escutar. E o sujeito, para se constituir, precisa ser escutado em sua singularidade, não apenas entretido.

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