Às vezes, parece que estamos presos a um roteiro invisível. Mudamos de parceiros, de cenários, de fases da vida, mas os conflitos se repetem: o mesmo tipo de abandono, as mesmas brigas, o mesmo vazio. Do ponto de vista psicanalítico, isso não é coincidência. A repetição nos relacionamentos pode ser um sinal de algo mais profundo: a tentativa inconsciente de elaborar uma experiência psíquica não resolvida.
Freud chamou esse fenômeno de "compulsão à repetição". Trata-se da tendência do sujeito a reviver situações dolorosas ou frustrantes na esperança inconsciente de encontrar um desfecho diferente. No entanto, como o enredo não é consciente, muitas vezes escolhemos, sem perceber, os mesmos tipos de relação – aquelas que ativam nossos traumas, nossos medos e nossas carências.
Repetimos para lembrar. E lembramos para, quem sabe, transformar. Por trás dessa repetição pode estar uma ferida infantil, uma ausência significativa ou um desejo não reconhecido. A relação amorosa se torna, assim, uma cena onde o inconsciente se encena: projetamos no outro figuras parentais, revivemos dinâmicas familiares, buscamos no presente uma reparação do passado.
Perceber essas repetições não é fácil – elas costumam se apresentar mascaradas de acaso ou destino. Mas quando começamos a identificá-las, abrimos um espaço importante para a mudança. A análise possibilita justamente essa travessia: tornar consciente o que se repete, reconhecer o desejo que está em jogo e construir novas formas de se relacionar.
Você já se perguntou por que certas histórias se repetem na sua vida? Talvez não seja apenas sobre o outro, mas sobre o que em você ainda busca ser escutado, acolhido e transformado.
Associados I.C.P.B.