O Sujeito na Psicanálise: Entre o Consciente e o Inconsciente

Na psicanálise, o conceito de sujeito transcende a noção de um eu consciente e unitário, introduzindo a ideia de uma identidade fragmentada, constituída a partir das relações entre o consciente e o inconsciente. Desde Sigmund Freud, o sujeito é pensado como resultado de uma dinâmica complexa de desejos reprimidos, pulsões e mecanismos de defesa que estruturam sua psique.

Freud rompe com a concepção cartesiana de um sujeito racional e autocontrolado, revelando que, muitas vezes, a razão é governada por forças inconscientes que escapam ao controle do ego. Nessa perspectiva, o sujeito não é dono de si mesmo, mas atravessado por um inconsciente que se manifesta através de atos falhos, sonhos e sintomas neuróticos.

O inconsciente freudiano é estruturado como uma linguagem. Lacan, ao reinterpretar Freud, afirma que “o sujeito é falado pelo inconsciente”, ou seja, ele não é o senhor de seu discurso, mas um efeito da linguagem. Para Lacan, o sujeito é dividido, sempre em busca de algo que nunca alcança plenamente: o objeto a, que representa o desejo inalcançável.

A constituição do sujeito, portanto, é marcada pela falta. A experiência primordial de separação entre o bebê e o corpo materno inaugura uma fissura no ser, que permanecerá como motor de seu desejo ao longo da vida. Esse sujeito do desejo é constantemente atravessado pelo outro — o grande Outro, que representa a cultura, a linguagem e as normas sociais.

A clínica psicanalítica busca possibilitar ao sujeito reconhecer suas formações inconscientes e lidar com o que escapa à consciência. Nesse processo, não se trata de eliminar o sintoma ou alcançar uma identidade plena e coerente, mas de fazer com que o sujeito possa sustentar sua própria divisão, resignificando seu desejo.

Assim, o sujeito na psicanálise é aquele que emerge da escuta de si mesmo, da confrontação com o que não sabe sobre si e da abertura à possibilidade de desejar. Ele é um sujeito em devir, construído a partir de suas faltas e através do encontro com o outro. Nessa perspectiva, ser sujeito é, antes de tudo, aceitar sua incompletude e continuar a busca interminável pelo que lhe escapa.

 

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