O Que É um Sintoma na Psicanálise?

Na psicanálise, o sintoma não é apenas uma manifestação física ou psicológica que causa desconforto, como costuma ser tratado em outras abordagens. Ele é visto como uma formação do inconsciente, carregada de significados simbólicos e enraizada na história psíquica do sujeito. Freud e, posteriormente, Lacan, desenvolveram compreensões profundas sobre o sintoma, revelando-o como um ponto de encontro entre desejo, repressão e conflito psíquico.


Freud descreveu o sintoma como um compromisso entre desejos reprimidos e a censura imposta pelo ego e pelo superego . Esses desejos, muitas vezes de natureza sexual ou agressiva, são considerados inaceitáveis ​​pela consciência e, por isso, são reprimidos. No entanto, o reprimido nunca desaparece completamente; ele retorna sob formas distorcidas, como os sintomas.

Por exemplo, uma pessoa que sofre de ansiedade intensa pode estar expressando, através desse sintoma, um desejo reprimido ou um conflito emocional que não consegue enfrentar conscientemente. O sintoma, assim, é ao mesmo tempo um sinal de sofrimento e uma tentativa do inconsciente de trazer à tona aquilo que foi recalcado.

Na psicanálise, o sintoma é sempre visto como um sinal carregado de significado . Ele não é um aleatório, mas uma mensagem do inconsciente que precisa ser decifrada. Para Freud, essa decodificação ocorre por meio da associação livre ate que venha o Enfalle, quando o paciente é incentivado a falar sem censura, permitindo que os significados ocultos do sintoma surjam gradualmente.

Lacan reforça essa visão ao afirmar que o sintoma é estruturado como uma linguagem. Para ele, o sintoma é uma "letra" que carrega um significado oculto, inscrito na história subjetiva do indivíduo e na sua relação com o desejo e o Outro. Decifrar o sintoma, nesse sentido, é dar voz ao inconsciente e confrontar os desejos e fantasias que ele tenta comunicar.

Embora o sintoma cause sofrimento, ele também tem uma função na economia psíquica do sujeito. Em muitos casos, o sintoma atua como uma solução provisória para conflitos internos, permitindo que o indivíduo continue operando, ainda que de forma limitada. Por exemplo, uma fobia pode proteger o sujeito de enfrentar um desejo ou uma realidade que ele considera insuportável.

No entanto, essa solução é frequentemente insatisfatória e gera mal-estar, motivando o sujeito a procurar ajuda terapêutica. O trabalho psicanalítico não visa simplesmente eliminar o sintoma, mas entender sua função e significado, permitindo que o sujeito encontre formas mais satisfatórias de lidar com seus conflitos.

Na clínica psicanalítica, o sintoma é uma porta de entrada para o inconsciente. Quando um paciente busca análise, geralmente é por causa de um sintoma que o aflige, seja ele uma ansiedade constante, uma compulsão, uma depressão ou mesmo um sintoma físico sem causa orgânica identificável.

O analista, ao tentar suprimir ou resolver o sintoma imediatamente, busca compreendê-lo em sua singularidade, ouvindo o paciente e explorando as associações que o sintoma evoca. Esse processo permite que o paciente se reconecte com partes de sua história psíquica e, muitas vezes, transforme sua relação com o sintoma, aliviando seu poder de causar sofrimento.

Lacan introduz a ideia de que, no final de uma análise, o sintoma não desaparece necessariamente, mas pode ser ressignificado. O sujeito aprende a assumir seu sintoma como parte de sua singularidade, lidando com ele de forma mais consciente e integrada. Em vez de ser algo que o domina, o sintoma pode se tornar um ponto de criação e subjetivação, permitindo ao indivíduo encontrar novas formas de expressão e realização.

Na psicanálise, o sintoma é muito mais do que um problema a ser resolvido. Ele é uma expressão do inconsciente, uma tentativa do sujeito de comunicar algo que não consegue dizer diretamente. Decifrar o sintoma é uma jornada de autoconhecimento e transformação, que permite ao sujeito compreender melhor seus desejos, conflitos e história psíquica. Nesse processo, a psicanálise não apenas alivia o sofrimento, mas também ajuda o indivíduo a encontrar novas possibilidades de ser e estar no mundo.

 

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