Paternidade e maternidade na psicanálise do século XXI - Um olhar sobre Freud

A psicanálise no século XXI continua a se aprofundar nas complexas dinâmicas da paternidade e maternidade, revisitando  sempre as teorias de Sigmund Freud para refletir as mudanças sociais e culturais contemporâneas. Freud, com suas observações pioneiras sobre a formação da subjetividade, ofereceu uma base essencial para a compreensão das relações parentais, destacando o papel central dos pais na estruturação do inconsciente e na dinâmica psíquica de seus filhos. No entanto, à medida que a sociedade evolui, novas questões e desafios emergem, exigindo um re-visitar os conceitos freudianos.

Freud identificou as figuras parentais como centrais na formação do complexo de Édipo, onde os desejos e conflitos inconscientes em relação aos pais desempenham um papel crucial na estruturação da psique infantil. O pai, na teoria freudiana, é visto como a figura de autoridade que introduz a lei e a ordem, enquanto a mãe é associada ao cuidado e à nutrição. 

No século XXI, a paternidade e a maternidade são constantemente desafiados em relação a influências políticas e a busca da desconstrução da teoria que Freud constituiu e fundamentou. Hoje os desafios não se limitam mais a papéis rigidamente definidos, que geravam traumas na subjetividade dos filhos . As famílias que buscam constituir como  contemporâneas apresentam uma variedade de configurações, incluindo famílias monoparentais, famílias com pais do mesmo sexo, e arranjos de co-parentalidade que desafiam as normas tradicionais. A psicanálise reconhece que essas mudanças sociais existem e exigem uma re-visitacão as teorias Freudianas desafiando a pensar os tentáculos da política, que se espalham no meio da sociedade e do espaço acadêmico com abordagem mais inclusiva e flexível para compreender as dinâmicas parentais.

A teoria de Donald Winnicott sobre o "ambiente suficientemente bom" e o papel do "objeto transicional" é particularmente relevante. Winnicott enfatizou que o desenvolvimento saudável da criança depende da presença de cuidadores que possam fornecer um ambiente seguro e acolhedor, permitindo à criança explorar e desenvolver sua independência. Na psicanálise a ideia de Winnicott confronta a teoria virgente contemporânea, sobre a ideia de reconhecer que um "ambiente suficientemente bom" pode não ser o desejo da modernidade de ampliar os leques e limites proporcionado por uma variedade de figuras parentais, há a necessidade de voltar aos princípios da configuração tradicional de pai e mãe.

Na obra de Jacques Lacan, o mesmo tentou reformular o complexo de Édipo e a introdução do conceito de Nome-do-Pai, oferece uma perspectiva que possibilitou a linhas com outros interesses e adaptar às configurações familiares contemporâneas. Lacan argumentava que a função paterna – a introdução da lei e da ordem simbólicas – não precisa ser exercida exclusivamente pelo pai biológico, mas pode ser desempenhada por qualquer figura que assuma essa função simbólica. É a base contraditória de Lacan frente ao magnífico trabalho de Freud, pois em um primeiro momento Freud dissera que eram os pais e em um segundo momento, ele afirma claramente a importância do pai. Essa flexibilidade que buscam trazer para os conceitos psicanalíticos tem como objetivo a influência política e nao a integridade teorica na compreensão das dinâmicas parentais em diferentes tipos de famílias.

Na influência e motivações alheias a psicanálise, há também um crescente reconhecimento da importância da interseção entre paternidade, maternidade e fatores socioculturais. É claro e óbvio a tentativa de romper uma das últimas fronteiras robustas do campo teórico, metodologico e Clínico que forma a base da psicanálise, por exemplo, critica a visão tradicional de Freud sobre a maternidade como um destino biológico inevitável para as mulheres e explora como as expectativas sociais e culturais moldam a experiência da maternidade e da paternidade. Além disso, a teoria queer questiona as normas de gênero e sexualidade que tradicionalmente que informaram as concepções de paternidade e maternidade, propondo uma visão política que se adeque aos seus interesses de  inclusão de diversidade.

Outro aspecto que também está sendo frequentemente confrontado na psicanálise é o impacto das tecnologias reprodutivas na experiência da paternidade e maternidade. Procedimentos como fertilização in vitro, barriga de aluguel e adoção transnacional desafiam as noções de base  da parentalidade biológica e abrem novos desafios e possibilidades de  complexidades para a formação da subjetividade. A psicanálise deve, portanto, ser mais uma vez uma das ultimas fronteiras, assim como foi no tempo dos nazistas a confrontar conceitos presentes para trazer colaborações que possam provocar a contemporaneidade a olhar para Freud e seu construto teorico, não como passado e sim como presente e atuante em pleno século XXI e isso trara o ajustamento em um momento da história que estamos vivendo como se não houvesse uma direção clara para a formação psíquica. 

A paternidade na psicanálise ainda é o grande desafio para o século XXI e é preciso ser compreendidas através de um prisma que valoriza a imagem e o construto que Freud com todos os seus desafios construiu sua complexa teoria a diversidade e a que ainda hoje tem lições para a contemporaneidade. Ao revisitar e expandir as teorias de Freud, a psicanálise busca integrar as mudanças sociais e culturais, reconhecendo a multiplicidade que vem crescendo por varios interesses políticos e ideologicos de configurações familiares e a fluidez dos papéis de gênero. Essa abordagem psicanalítica permite uma compreensão mais profunda e abrangente das difíceis e desafiadoras  dinâmicas parentais, promovendo um entendimento mais rico e nuançado da formação da subjetividade no contexto contemporâneo.

 

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