Discussões Psicanalíticas sobre o desejo

Como nasce o desejo? O ser humano é um ser de carência que está sempre atrás de alguma coisa. Vivemos com a sensação da falta. Na sua história o homem transformou instintos em desejos. Com a linguagem e a cultura aprendemos a desejar.

Psicanalistas do Instituto Círculo Psicanalítico de Brasília (I. C. P. B), falam do desejo que está sempre presente e pode estar em qualquer lugar. O que está por trás desta ânsia tão comum e difícil de explicar?

No dicionário de psicanálise, de Elisabeth Roudinesco, o termo  empregado em filosofia, psicanálise e psicologia para designar, ao mesmo tempo, a propensão, o anseio, a necessidade, a cobiça ou o apetite, isto é, qualquer forma de movimento em direção a um objeto cuja atração espiritual ou sexual é sentida pela alma e pelo corpo.

 

Passamos a vida na busca inalcançável de preencher nossos desejos. Os desejos sempre se renovam? Existe uma definição para o desejo?

O desejo não possui uma única definição. Desejar é diferente de querer ou ter vontade. Segundo a psicanálise, o desejo está ligado ao instinto e posicionado em nosso inconsciente. Uma espécie de força motriz que motiva nossa relação com a realidade e com os outros.

O que é o desejo?

É a representação das pulsões, a representação dos instintos, que faz com que passamos a procurar um objeto para aplacar o que sentimos dentro de nós. O desejo não está ligado ao prazer como se pensava. O nosso desejo vai buscar um objeto. O desejo não obedece a uma lógica. O desejo é aquilo que persegue um objeto e quando esse objeto é atingido, o desejo perde a sua significação.

Para a psicanalista Vanilda Santos, o desejo está atrelado à fantasia. O desejo é uma busca de um reconhecimento impossível de ser saciado, uma vez que, incide sobre uma fantasia. “O desejo não é da ordem das coisas, o desejo é da ordem do simbólico”, explica Vanilda. O objeto do desejo não é uma coisa concreta que se oferece ao sujeito. “Ele se realiza nos objetos e o objeto assinala uma falta procurando se realizar através de uma série de substitutos formando uma rede contingente mantendo a permanência da falta”, afirma Vanilda.

 

Qual a origem do desejo?

“Uma falta infinita que não pode ser contida, existe uma origem? Ouvi dizer que num passado longínquo não havia essa falta. Tudo era perfeito. Perfeita simbiose entre a criança e a mãe. Uma coisa só que foi repartida por uma força dolorida chamada castração. Essa separação dolorosa, porém, necessária pode ser a resposta da origem e dela surge a falta, a saudade da mãe que era toda fonte de gozo. O desejo então nasce a partir dessa falta dessa separação. Com certeza todo neurótico e perverso foram castrados”, afirma Jakeline.  Para a psicanalista Jakeline Lourenço, o desejo é um retorno à experiência na relação da criança com sua mãe. “A consciência só se reconhece no outro, no objeto imaginário. Na medida em que esse outro é o objeto do desejo”, explica Jakeline.

O desejo é sexual?

Para a psicanalista Ádina Borges, todo desejo é sexual. “Como entender a questão do desejo? Ele surge na relação com a mãe. O amor materno é a principal demonstração de um grande afeto. A criança entende que existe porque tem o amor da sua mãe. A mãe precisa aos poucos desfazer essa ilusão da criança. Nesse sentido nem toda demanda dessa criança pode ser atendida.

Para a construção do psiquismo da criança é necessário que apareça a frustração”, explica Ádina. “É preciso haver a falta, a mãe precisa entender que não deverá satisfazer todas as demandas da criança. Uma criança sem desejo vai querer vivenciar o desejo da mãe”, afirma Ádina. O desejo da criança vai ser o desejo do outro. Para Ádina, nutrir com amor em demasia impede a aparição da dimensão da falta.  “Pais inclinados via de regra a mostrar afeição excessiva, são aqueles que muito provavelmente, despertarão a disposição da criança para a neurose.”  O desejo é feito de uma falta e não tem como ser satisfeito a todo momento sem passar pela frustração, explica Ádina.

 Partindo do princípio de que o desejo é uma falta, o objeto que falta ao sujeito é o desejo do outro. O objeto do desejo humano, não é um objeto, mas outro desejo.

 

Gabriela Scalon - Assessora de Imprensa do ICPB

     

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