O mal-estar na civilização Sigmund Freud

A meu ver a questão decisiva para a espécie humana é de saber se, e em que medida, a sua evolução cultural poderá controlar as perturbações trazidas à vida em comum pelas pulsões humanas de agressão e autodestruição. (Sigmund Freud," -O mal-estar na civilização, 1930) Vivemos uma epidemia de pânico desencadeada pela grave pandemia do coronavírus.  

Diante da angústia de morte e das incertezas quanto à doença, o pânico aparece entre as pessoas e as reações são as mais variadas. Uma delas é a negação do problema. Vemos isso em todos os países, nos quais as pessoas minimizam o problema e não tomam os cuidados recomendados pelos especialistas e pelos sistemas de saúde, frequentando lugares com aglomeração de pessoas como bares, restaurantes, cinemas, shows, manifestações públicas, etc. De forma semelhante vemos reações de rebeldia, violência, segregação de pessoas que poderiam estar infectadas.
Já entramos numa crise mundial desencadeada por essa pandemia que apesar disso, paradoxalmente, pode nos ajudar a pensar e, quem sabe, começar a mudar nossa visão sobre esse mundo em que vivemos hoje.


Atravessamos um momento histórico sombrio da humanidade, no qual certas políticas e ideologias discriminatórias estão em ascensão; o conhecimento e a ciência são atacados, mesmo após as importantes lições que outras epidemias, o holocausto e outros genocídios nos deram.

Esse quadro é particularmente grave no Brasil onde observamos uma enorme regressão no que concerne nossa consideração e reconhecimento do outro como nosso semelhante, manifestações violentas, desqualificativas e de descaso e ódio em relação aos mais desfavorecidos e àqueles diferentes de nós.

Agora fica claro o que Freud já mostrou quando, a partir de 1920, no pós Primeira Guerra Mundial, reformulou sua teoria das pulsões, introduzindo o novo dualismo pulsional: pulsão de vida e pulsão de morte. No texto Psicologia das massas e análise do Ego, e em outros textos, nos mostrou o quanto o ser humano tem nele, em seu âmago mais profundo, a possibilidade de destruição de si mesmo e dos seus semelhantes.
Todos nós estamos sendo forçados a aprender que só sobreviveremos enquanto espécie juntos.

Ronaldo de Mattos - Psicanalista

     

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